terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Pierrot Apaixonado


– Mate ele, Carlo.
Foi o que disse o pequeno boneco vestido de Pierrot que estava em cima da mesa. A princípio Carlo achou que era efeito do vinho que tomara mais cedo, afinal, hoje ele havia exagerado na dose.  Mas não era o vinho. O pequeno Pierrot realmente tinha falado com ele.
– Mate ele, Carlo. E ela também! Ambos estavam te enganando.
Carlo riu, uma risada rouca, pesada, carregada de ódio. – Não esperava escutar isso, ainda mais de um boneco, respondeu Carlo, fixado nas grandes bolas que eram os olhos do pequeno, – Que engraçado, ser consolado por um Pierrot... Sua história não é muito diferente da minha, colega...
Uma sombra passou pelos olhos do boneco. Carlo conhecia aquele olhar, ele mesmo o usava há certo tempo. Desde que descobrira que sua noiva o estava traindo com seu melhor amigo, Carlo tinha sido dominado pelo rancor.
– Mate-os Carlo. Você tem o direito de se vingar.
Após pesar um pouco, Carlo disse mais para si mesmo do que para o Pierrot:
– Até que não seria má idéia... Os olhos do boneco brilharam. – É fácil Carlo. Aposto que eles estão dormindo juntos agora, sorriu o pequeno.
– Não! Eles não seriam tão baixos! rugiu Carlo, Eu a deixei ficar no apartamento! Ela não o levaria para lá!
Ele começou a se lembrar do dia em que descobrira a traição. Tinha acabado de comprar um colar de pérolas para ela. Ela amava pérolas. Mas, no momento em que olhou para o lado, ele congelou: sua amada estava com a boca colada a de seu melhor amigo, em um pequeno bistrô do outro lado da rua.
– Tem certeza disso? perguntou o Pierrot. Carlo parou por um momento e, enquanto pegava as chaves e saia, respondeu:
– Não, mas vou ter!
Como Carlo esperava, ela não tinha trocado a fechadura. Ao entrar no quarto ele parou: ela estava com a cabeça recostada no ombro de seu amante, e ambos dormiam tranqüilos. Ainda apoiado no umbral da porta, Carlo ficou cego.

– Que sonho horrível, meu Deus! ele pensou. Tinha acabado de acordar e tentava se sentar na cama, abalado pelo pesadelo que tivera.
– Senhor Carlo Vigatti, abra a porta!! É a polícia!! disse a voz por detrás da parede.
Assustado, Carlo levantou-se e, antes de abrir a porta, passou os olhos pela mesa. Ao se encontrarem com os seus, os olhos do boneco vestido de Pierrot brilharam.

***


( Autoria: Jordana Gouveia e Silva )