Mas que Humanitas é esse?
– Humanitas é o princípio. Há nas cousas todas certa substância recôndita e idêntica, um princípio
único, universal, eterno, comum, indivisível e indestrutível, – ou, para usar a linguagem do grande Camões
Uma verdade que nas cousas anda
Que mora no visíbil e invisíbil.
Pois essa substância ou verdade, esse princípio indestrutível é que é Humanitas. Assim lhe chamo,
porque resume o universo, e o universo é o homem. Vais entendendo?– Pouco, mas, ainda assim, como é que a morte de sua avó...
– Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a
supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é princípio
universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas
tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para
transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem
em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso,
é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria
da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra
não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e
ama o que lhe aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que
virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.